INÍCIO DA VIDA IMELDINA NO BRASIL



    UM POUCO DE HISTÓRIA


     

     “Parece um sonho. Somos oito as escolhidas pela divina predileção, a fim de trabalhar pela difusão do culto eucarístico em terras estrangeiras”. Assim inicia a crônica da Irmã Francisca Cristófori que descreve, em detalhes coloridos, a viagem e a chegada das oito primeiras missionárias, ela inclusive, em Santa Cruz do Rio Pardo/SP.

    No ano de 1941, as Irmãs Dominicanas Imeldinas, em Veneza, tomaram a firme decisão de aceitar o convite dos confrades dominicanos, já no Brasil desde 1936, de virem agregar-se a eles e realizar uma missão conjunta. Contudo, em decorrência da II Guerra Mundial (1939-1945) era impossível a travessia do oceano. Aguardaram, então, o fim do confronto militar para dar início ao projeto missionário.

    Depois de longos preparativos e tratativas com os padres dominicanos no dia 09 de novembro de 1946 do porto de Gênova no “Almirante Alexandrino”, um velho couraçado brasileiro transformado em navio mercante e de passageiro, partiram as missionárias: Irmã Alberta Piccoli, Irmã Francesca Cristófori, Irmã Giovannina Marchetto, Irmã Eufêmia Malagoli, Irmã Angélica Bizzarri, Irmã Diana Chinellato, Irmã Vitória Lazzari e Irmã Gioconda Roncolato.

    Lançavam-se numa aventura alegre e triste ao mesmo tempo. Alegre porque era um sonho acalentado por longo tempo que se tornava realidade. Triste porque o conhecido era trocado pelo desconhecido e ondas de incertezas e interrogativos invadiam suas mentes. Como seriam os “índios infiéis”? Como enfrentar as feras, as serpentes, o clima tropical? Como fazer-se entender com gente que usava língua tão diferente? Como seria o trabalho em colaboração com os frades? Todavia, o pensamento de que esta era a vontade divina e que a missão não era um sacrifício, mas um privilégio do carinho e do amor de Jesus amado e adorado na Eucaristia,  dissipava toda sombra de dúvida. Elas deviam ser fortes, destemidas e generosas e retribuir tanto amor de Jesus e irradiá-lo, desta vez em terras bem distantes.

    Uma missão “apud infideles”, isto é, uma missão entre índios infiéis do sertão brasileiro era a ideia dominante e o motivo que trazia ao Brasil as primeiras irmãs imeldinas. Ao contrário dos planos originais, a “conversão de índios infiéis”, deu lugar a catequese e outros serviços apostólicos em Santa Cruz do Rio Pardo. Após 45 dias de viagem passando por Cabo Verde, Recife, Rio de Janeiro chegam, em 25 de dezembro de 1946, em Santa Cruz do Rio Pardo.

    Sabe-se e testemunhas atestam que as irmãs enfrentaram dificuldades de toda sorte e que estas souberam enfrentá-las com alegria, generosidade e entusiasmo. Por motivos políticos, o trabalho que lhes tinha sido oferecido na Santa Casa não foi possível. A Itália saia devastada da segunda guerra mundial e a congregação empobrecida não podia oferecer suporte financeiro às missionárias. No entanto, Deus colocou em seu caminho anjos que à sua frente lhes providenciava casa e comida: os Padres Dominicanos e o povo santa-cruzense. Na Escola Apostólica Dominicana onde foram acolhidas, encontraram trabalho e alimentação. Na Santa Casa, na qual de início iriam trabalhar, e também no Asilo São Vicente ainda em construção, tiveram um lugar para dormir.

    Além dos Padres Dominicanos, deve-se uma menção especial as pessoas que se destacaram no ajudar, de início, as irmãs: a Senhora Margarida Zacura, Dona Chiquinha Camarinha e Senhor Plácido Lorenzetti. Estes dois últimos colaboraram financeiramente para a aquisição da casa São José na Avenida Tiradentes, nos primeiros anos da chegada das irmãs. Isto para nomear os primeiros de uma fila interminável de benfeitores que colaboraram na consolidação da missão, primeiro em Santa Cruz do Rio Pardo e daí para outras cidades e estados do Brasil e países da América.

    Nos oitocentos anos da fundação da Ordem Dominicana, nos 80 anos da chegada ao Brasil dos Frades da Província de Bolonha e 70 anos do estabelecimento das Irmãs Dominicanas em Santa Cruz do Rio Pardo, juntamos nossos corações e mentes numa prece de louvor e gratidão a Deus que por meio dos filhos e filhas de São Domingos operou e opera maravilhas no mundo.      

                 [...] Viajamos com Frei Ceslau, de trem, de Santos a São Paulo. No caminho explicou-nos o imprevisto. Ele, pároco de Santa Cruz do Rio Pardo, nos havia chamado e pago a viagem para trabalharmos na sua Paróquia – Santa Casa em fase de construção, Asilo ainda estava num barracão de madeira e Escola Apostólica. Contou então que enquanto nós estávamos vindo, a Comissão médica da Santa Casa, havia eliminado os Padres da mesma Comissão, de modo que as Irmãs não teriam o alojamento que os Padres esperavam. Só provisoriamente teríamos uma sala para dormir. Nessas condições, as Irmãs, deviam ser solidárias com os Padres e não trabalhariam na Santa Casa. Os médicos da comissão eram Protestantes e mais, era tempo de política para a eleição do Prefeito da Cidade de Santa Cruz, chamada então de “Pérola da Sorocabana”. O Sr. Lúcio Casanova Neto era o candidato do PSD, que não era o mesmo dos médicos e daqueles que queriam as irmãs.

                Chega finalmente à noite e nos encontramos novamente em nossa clausura.... rosa. De manhã vem uma enfermeira para informar-se sobre quais irmãs tinham vindo para trabalhar no hospital, mas havíamos recebido a ordem para que todas nos dirigíssemos ao Colégio até que não nos fossem dadas outras indicações.      

                Durante um retiro de Padre Marcos Righi, ficamos sabendo que existiam insetos que entravam no nosso corpo através dos pés... e causavam infecção  levando à morte!!! Em casa discutimos e... oh, missionárias, nos encontramos de fronte a um rinoceronte! Uma irmã que se lamentava de um prurido insuportável nos pés, descobriu que era um bicho de pé. A médica, Irmã Francisca que tinha estudado o caso, fez a descoberta. Sentada no chão operou a vítima. Tornou-se então um ato comum, toda noite, sentávamos na cama e passávamos em revista nossos pés.


                                                                                                                   

                                                                                                                   Irmã Ângela Zandonadi


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